TRABALHO APRESENTADO NO CONCEVEPA 2008


RECONSTRUÇÃO DE DEFEITO PERIOCULAR EXTENSO COM FLAP CUTÂNEO PEDICULADO DA FACE COMO ENXERTO ROMBÓIDE. RELATO DE CASO EM CÃO.


EXTENSIVE PERIOCULAR DEFECT RECONSTRUCTION WITH PEDICULATED CUTANEOUS FLAP OF THE FACE LIKE RHOMBOID GRAFT. DOG CASE REPORT.

Aline Maria Vasconcelos LIMA1, Luciano Schneider da SILVA2, Nilo Sérgio Troncoso Chaves3 , Carolina Castro Lyra da SILVA4, Ashbel Schneider da SILVA4, Caroline Fleury CANESIN4.

1. Doutoranda em Ciência Animal – EV-UFG, alinevetufg@hotmail.com

2. Prof. Adj. Técnicas Cirúrgicas e Médico Veterinário – HVET/ASSOBES/GO, Doutorando em Cirurgia Experimental - Ciência Animal EV/UFG. Goiânia, Goiás, Brasil, luciano.schneider@gmail.com

3. Prof. Dr. Titular do Departamento de Clínica Médica Animal EV-UFG

4. Acadêmico(a) de Medicina Veterinária, Escola de Veterinária – UFG, Goiânia - GO.

ABSTRACT

Eyelid defects after serious trauma most of the time requires a great surgical position of the adjacent tissues for a functional and cosmetic result. This report describes a reconstructive surgical technique, using a pediculated myocutaneous flap of the face, like rhomboid graft, in a dog eyelid laceration correction. It weren’t observed necrosis areas and accentuated edema at postoperative, because the graft proportionated a great irrigation at the injury site. The pediculated snip of the face like rhomboid graft was an effective technique in the repair of a dog lower eyelid extensive injury, being indicated at the cases with micro-circulation compromising, allowing perfect healing.

Key words: eyelid, cutaneous snip, animal.

REVISÃO DE LITERATURA

A perda visual pode ocorrer se houver falha na restauração da capacidade protetora das pálpebras. Além da proteção mecânica, as pálpebras possuem estruturas especializadas na proteção do globo ocular como os cílios e glândulas produtoras de filme lacrimal. O piscar lubrifica a superfície do globo ocular protegendo-o de fatores externos (MASON, 1997). A reconstrução palpebral deve agir na lesão de modo a corrigir anatômica e fisiologicamente, ficando a estética num segundo plano. A reconstrução da pálpebra e da região periocular deve preservar estruturas importantes e fornecer tecido de características semelhantes, pele na camada externa e mucosa na camada interna (JELKS & JELKS, 2001).

As pálpebras apresentam excelente suprimento sanguíneo e as lesões cicatrizam-se rapidamente quando reparadas de modo correto. Quando ocorrer lesão palpebral deve-se realizar uma pesquisa cuidadosa para lesões concomitantes ao globo ocular como um todo, e deve-se estabilizar a condição geral do paciente antes de tratar as lesões perioculares (SLATTER, 2005).

Em lesões perioculares mais extensas, uma variedade de recobrimentos cutâneos de avanço, rotação, padrão axial, flaps, estão disponíveis dependendo da localização do tecido a ser substituído e de seu tamanho. Nas reconstruções perioculares extensas e micro-cirurgias palpebrais quase sempre devem ser de natureza eletiva e com auxílio de um cirurgião especializado. Algumas complicações pós-cirúrgicas podem acontecer se a técnica cirúrgica aplicada não for correta como: edemas graves, distorção e lesão de córnea quando utilizadas suturas e fios inadequados (SLATTER, 2005).

Defeitos nas pálpebras após traumas graves quase sempre requerem um bom posicionamento cirúrgico de tecidos adjacentes para um resultado cosmético e funcional (LEVIN & LEONE, 1990). Embora o conhecimento das propriedades biomecânicas das pálpebras tenha aplicações importantes nas cirurgias de reconstrução palpebral, existem poucas publicações sobre o assunto na literatura científica médica veterinária.

DESCRIÇÃO DO CASO

Foi atendido no Hospital Veterinário da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás um cão macho, sem raça definida, com aproximadamente 11 meses, que apresentava laceração palpebral inferior no olho direito, sendo imediatamente encaminhado ao serviço de oftalmologia. A lesão periocular do paciente foi examinada e classificada como uma lesão tardia, com mais de 12 horas de exposição, sendo indicado de imediato, limpeza e tratamento medicamentoso da lesão para reduzir a inflamação e contaminação. O ferimento foi limpo com solução fisiológica 0,9% de NaCl e tratado diariamente com pomada oftálmica à base de neomicina e dexametasona. Também foi recomendada terapia oral com cefalexina na dose de 30 mg/kg a cada 12 horas e meloxican na dose de 0,2 mg/kg a cada 24 horas. Após cinco dias o animal foi encaminhado para cirurgia para que fosse realizada a reconstrução palpebral.

O paciente foi sedado com acepromaziona a 0,2% (0,1mg/Kg) e em seguida encaminhado para tricotomia periocular ampla. Logo em seguida induziu-se a anestesia com propofol (5mg/Kg) e cloridrato de tramadol (2mg/Kg) por via intravenosa. Decidiu-se promover anestesia local da região a ser operada, utilizando-se para este fim, infiltração local de lidocaína com epinefrina a 0,5%. Devido à extensão da ferida ocular, optou-se pela técnica de recobrimento com flap rombóide pediculado de desvio lateral em ângulo de 90º, descrita por BLANCHARD & KELLER (1976), que a nomeou técnica de recobrimento-enxerto rombóide. Uma incisão retangular rombóide foi posicionado para remover a lesão com um lado do rombo assumindo a posição da margem palpebral. A lesão foi excisada do tecido subcutâneo subjacente e a conjuntiva foi dissecada para formar a superfície da nova pálpebra. O recobrimento em flap foi dissecado livremente ao longo das linhas angulares laterais ao defeito cutâneo provocado. O flap de reposição foi rotacionado em 90º sobre o defeito palpebral e suturado com fio 6-0 de ácido poliglicólico, assumindo a posição de margem conjuntiva-pálpebra.

O pós-operatório constou de higienização diária do ferimento com solução fisiológica e curativo local com rifampicina spray três vezes ao dia, durante 15 dias. Sistemicamente, durante este período, o animal também foi medicado com cefalexina 30mg/Kg via oral, de 12 em 12 horas. Após duas semanas o paciente retornou para retirada de alguns pontos cutâneos e com ferimento plenamente cicatrizado, demonstrando que foi promovida perfeita coaptação dos tecidos.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

GELATT (2003) afirma que feridas cirúrgicas palpebrais de espessura total devem ser reparadas com as bordas sendo perfeitamente apostas para que a função normal seja restabelecida. MASON, et al (1997) relata que a formação de cicatriz anormal pode acarretar deformação palpebral. Como não houve retração cicatricial anormal nesta técnica, mesmo com grandes incisões e deslocamento de flap, a perfeita aposição das bordas justificou uma reconstrução palpebral precisa. O suporte sangüíneo de um retalho é a melhor opção nos casos onde a micro-circulação está deficiente (LEVIN & LEONE, 1990). Se a pele apresentar uma coloração ou consistência diferente no pós-operatório, haverá um resultado estético final pouco satisfatório (JELKS & JELKS, 2001). Não foram observadas áreas de necrose, tampouco edema acentuado no pós-operatório, provavelmente pela boa irrigação que o flap rombóide pediculado proporcionou como enxerto no local da lesão.

O retalho miocutâneo pediculado como enxerto rombóide foi uma técnica efetiva no tratamento da lesão extensa da pálpebra inferior do cão, podendo ser indicada principalmente nos casos com comprometimento da micro-circulação palpebral, o que poderia causar necrose no enxerto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLANCHARD, G. L.; KELLER, W. F. The rhomboid graft-flap of the repair of extensive ocular adnexal defects. Journal of American Animal Hospital Association, v.12, p.576, 1976.

GELATT, K. N. Manual de Oftalmologia Veterinária. 1 ed. São Paulo: Manole. p. 65-66, 2003

JELKS GW, JELKS EB. Prevention of ectropion inreconstruction of facial defects. Clinic Plastic Surgery. 2001;28(2):297-302

LEVIN ML, LEONE CR Jr. Bipedicle myocutaneous flap repair of cicactricial ectropion. Ophthalmic Plastic Reconstructive Surgery. 1990;6(2):119-21.

MASON EM, CRUZ AAV, SOARES EJC, VELASCO EAF, BEDRAN EGM, PORTELLINHA WM. Reconstrução palpebral. In: Soares EJC, Moura EM, Gonçalves JOR. Cirurgia Plástica Ocular. São Paulo: Roca; 1997. p.221-42.

SLATTER, D. Pálpebras. Fundamentosde Oftalmologia Veterinária. 3 ed. São Paulo: ROC A, C.7, p. 160-219, 2005.


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