CIRURGIA PLÁSTICA RECONSTRUTIVA DA REGIÃO PERIANAL, UTILIZANDO QUITOSANA A 2% ASSOCIADA A FLAP CUTÃNEO PEDICULADO DE TRANSPOSIÇÃO – RELATO DE CASO EM FELINO
Luciano Schneider da SILVA ¹, Ashbel Schneider da SILVA ², Ana Carla Peracini BENTO ³, Neusa Margarida PAULO 4, Ingrid Bueno ATAYDE5
¹ Doutorando - Ciência Animal Escola de Veterinária – UFG, Goiás, Brasil. luciano.schneider@gmail.com
² Acadêmico de Medicina Veterinária, Escola de Veterinária - UFG, GO/Brasil.
3 Médica Veterinária. Clínica Veterinária Setor Bueno, Goiânia, GO, Brasil.
4 Profa. Adj. Cirurgia, Departamento de Medicina Veterinária, Escola de Veterinária -UFG, GO/Brasil.
5 Doutora em Ciência Animal – EV/UFG, Profa. Titular de Clínica Médica Veterinária – HVET/ASSOBES-GO.
ABSTRACT
The skin is an organ of complex structure and function and of difficult repair in face of irreversible damages such as burning, trauma or diseases. Repairing lesions next to anal and urethral areas is complicated due to daily fecal and urine contamination. In experimental studies, chitosan has presented strong antiseptic, anti-inflammatory, analgesic and healing properties. A feline, eight-year-old patient presenting a dirt-contaminated wound of 4cm (depth) x 8cm (diameter), originated from skin and muscles of perianal and tail insertion area was admitted for treatment. The wound also presented pus, border necrosis and miiasis in the center área. The wound was pharmacologically treated with 2% chitosan ointment intending to recover tissues’ health and quell the infection. A pediculated cutaneous flap was done with the healthy adjacent tissue and transposed over the wound. After only 30 days of treatment it was possible to reconstruct all the lacerated area of the patient. The use of 2% chitosan ointment allowed for a fast recovery of the infected and swollen tissue, which favored the cutaneous implant transposed over the wound. The technique was proven to be effective on the plastic reconstruction of the affected area.
Key words: plastic, chitosan, feline.
REVISÃO DE LITERATURA
Quando a perda celular e tecidual é extensa, o processo de reparação é complexo, a regeneração de células parenquimatosas é incapaz de recompor integralmente a arquitetura original (Cotran, et al., 1996). O uso Flaps pediculados na reconstrução cirúrgica de feridas abertas é utilizada dependendo do tipo, causa e profundidade da lesão. Esta técnica é uma das possibilidades de tratamento para feridas abertas de grandes proporções. A sua vantagem principal é a possibilidade de cobertura imediata de uma ferida, evitando asim todas as fases de cicatrização por segunda intenção (FOSSUM, 2008).
A contaminação da ferida aberta acaba sendo um empecilho no tratamento cirurgico. Feridas contaminadas limpas e contaminadas podem ser ocluídas logo depois da sua desinfecção adequada, assim como feridas infectadas cujo tecido contaminado possa ser excisado de forma completa sem contaminar campo cirúrgico, caso contrário, feridas infectadas não devem ser fechadas primariamente. O tratamento prévio de uma ferida aberta e contaminada tem por objetivo torná-la limpa e revitalizada atravéz do desbridamento e atibióticoterapia (SLATTER, 2007).
A quitosana é um polissacarídeo amino, derivado do processo de desacetilação da quitina. Constitui a maior parte dos exoesqueletos dos insetos, crustáceos e parede celular de fungos (AZEVEDO, et al.,2007). Dentre as inúmeras características que distinguem a quitosana dos demais polissacarídeos destaca-se a atividade antimicrobiana. Possue também propriedades, analgésicas, antiinflamatórias e imunomoduladora devido à capacidade de ativar quase que exclusivamente o macrófago, o que explica seu papel na aceleração da cicratização de lesões (Costa Silva, et al., 2006).
dESCRIÇÃO DO CASO
Uma gata, SRD, 8 anos de idade, 4k de peso, foi atendida em ambulatório clínico apresentando uma ampla laceração da região perianal e da base da cauda. Durante o exame clínico foi verificado hipertermia (41oC), desidratação e topor. Foram realizados exames laboratoriais, verificando leucocitose, com neutrofilia relativa e absoluta. Após limpeza e assepsia do ferimento, verificou-se que o esfíncter anal e a vagina estavam preservados, mas o edema e inflamação na região eram muito intensos e os músculos de sustentação do ânus estavam rompidos. A lesão tinha atingido pele e musculatura da região perianal, com 4 cm de profundidade e 8 cm de diâmetro. Havia sinais de infecção bacteriana e necrose de pele e musculatura das bordas.
Foi decidido intervir inicialmente com curativos tópicos a cada 12h, utilizando uma pomada manipulada a base de quitosana a 2%. Foram ainda integrados a terapêutica antibióticoterapia e antiinflamatório sistêmico por 6 dias com Azicox – 2 (50mg de Azitromicina e 0,5 mg de Meloxicam). Os curativos persistiram durante 10 dias quando foi percebido que a infecção e o edema haviam sido debelados. Percebeu-se que o tecido de granulação havia intensamente aflorado, permitindo a redução do ferimento por terceira intenção.
Antes da redução cirúrgica do ferimento, foi curetada toda a área da lesão e confeccionado um flap pediculado de 15 cm de comprimento e 4 cm de largura. A área escolhida para o retalho foi à lateral esquerda da região posterior do paciente, adjacente a área da lesão. Neste local a pele estava integra permitindo a transposição do retalho pediculado e preservação dos vasos sanguíneos do retalho.
Na aproximação da musculatura e fixação do enxerto foram realizadas internamente suturas padrão separado simples com fio de poliglecaprone 4-0. Nas bordas da pele foi aplicado o mesmo padrão de sutura com fio de náilon 4-0.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Sete dias após a cirurgia, verificou-se que não havia mais edema e o animal defecava e urinava normalmente, sem necessidade de sondagem. Diariamente continuou-se a fazer a assepsia do ferimento e curativo com a quitosana 2%. A retirada dos pontos com 20 dias após o procedimento reconstrutivo culminou na perfeita recuperação plástica da derme e estruturas adjacentes. Conforme demonstraram Costa Silva, et al. (2006) o tratamento tópico a base de quitosana a 2% no preparo da cicatrização por terceira intensão, foi importante na precocidade da recuperação tecidual. A técnica de flap pediculado de transposição aplicada, indicada por FOSSUM (2008), foi eficaz na recuperação da plastia da região perianal do felino.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Azevedo, V. V. C.; Chaves, S.A.; Bezerra, D. C.; Lia Fook, M. V. ; Costa, A. C. F. M.; Quitina e Quitosana: aplicações como biomateriais. Revista Eletrônica de Materiais e Processos, Paraíba, v. 2, n. 3, p.27-34, 2007.
Costa Silva, H. S .R.; Santos, K. S. C. R.; Ferreira, E I.; Química Nova, São Paulo, v.29, n.4,p.776-785, 2006.
Cotran, R. S.; Robbins, S. L.; Schoen, F. J.; (1996), “Inflamação e Reparação” Patologia Estrutural e Funcional. 5a ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan , 1996, p.45-83.
FOSSUM, T. W. Cirurgia de pequenos animais. 3a ed. Rio de Janeiro: Mosby Elsevier, 2008, 1606p.
Schulz III, J.T.; Tompkins, R.G.; Burke, J.F.; “Artifical Skin”, Annual Review of Medicine, v. 51, p. 231-44, 2000.
SLATTER, D.; Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. 3a ed. São Paulo: Manole. v.1, 2007.
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